Disco: "The Experiment", Art Vs. Science

Art Vs. Science
Australian/Dance Punk/Electronic
http://www.myspace.com/artvsscience

 

Por: Cleber Facchi

Após uma bem sucedida série de EPs a banda australiana Art Vs. Science chega com seu primeiro disco de estúdio. The Experiment (2011) faz uma pequena retrospectiva do rock e da música eletrônica nos últimos anos, trazendo um álbum que deve funcionar bem dentro e fora das pistas. Em um ano em que Cut Copy lança seu mais recente sucesso, Zonoscope, e o The Death Set faz a estreia de seu segundo disco, o trio de Sindey não fica atrás dos conterrâneos e faz uma mistura sonora como poucos.

A história da banda teve início após Dan McNamee (guitarra, teclados e vocais) ter assistido a uma apresentação da dupla Daft Punk em 2007. Motivado, o músico foi atrás de Jim Finn (baixo, teclados e vocais) e Dan Williams (vocais e bateria), que já eram conhecidos através da banda de garagem Roger Explosion. Interessados pelo conceito de misturar rock e eletrônica, a banda partiu para suas primeiras apresentações em 2008, logo no ano seguinte soltando seu primeiro EP. Em 2010 mais dois pequenos discos deram ao grupo a oportunidade de se apresentar fora do país, abrindo shows pra o La Roux e Groove Armada. Dali para o primeiro álbum seria só questão de tempo.

E eis que chega o primeiro disco de estúdio da banda, e não é que ele é bom. Nas treze faixas que compõem o trabalho o trio faz uma mistura perfeita entre o peso do indie rock com toques nada modestos de música eletrônica. Um experimento com quase uma hora de duração em que a banda faz uma pequena viagem pela música (principalmente eletrônica) nas últimas três décadas. Do hip-hop e o synthpop nos anos 80, o Techno e a música pop na década de 1990, além da cena MAXIMAL e todas os elementos conceituais dos anos 2000 vão amarrando todas as canções do álbum.

Cada uma das canções revela um artista, banda ou movimento que inspira o trabalho dos australianos. Em Take a Look At Your Face o trio destila um rock sujo, repleto de batidas ruidosas que remetem desde Daft Punk ao Justice, sem contar com a forma de cantar meio versada que lembra os trabalhos do Beastie Boys nos anos 90.

Há também um pouco de todas essas bandas que fizeram o rock mais dançante nos anos 2000, como Klaxons e The Rapture, sem contar nos pequenos toques de experimentalismo.

Ainda nos clima dos anos 90 vem Magic Fountain, aquele tipo de faixa que lembra fácil o que Tom Rowlands e Ed Simons, a dupla The Chemical Brothers, fazia em seus álbuns de estreia, principalmente o Dig Your Own Hole de 1997. As programações eletrônicas e os sintetizadores também remetem à faixa Stress do Justice, principalmente nos momentos finais da música. Claro que o trio não deixa de lado as influências locais, como With Thoughts, canção que desenvolve os sintetizadores de maneira brilhante, aos visíveis moldes do In Ghost Colours (2008) dos conterrâneos do Cut Copy.

Uma coisa é certeza ao ouvir The Experiment: é impossível ficar estático ao som desse disco. Quando você pensa que o furor das faixas de abertura já passou e o disco vai se encaminhar por um rumo mais contido, a banda chega despejando mais uma quantidade absurda de hits dançantes. Rain Dance, Sledgehammer, New World Order e Bumblebee (uma das mais explosivas do disco) traduzem a excelência da banda, quando o objetivo é fazer você dançar. Talvez Heavy Night mostre o lado menos dançante da banda, através dos solos de guitarra categoricamente inspirados no Gang of Four.

Mesmo na canção de fechamento do álbum, Before You Came To This Place, o trio de Sidney não apresenta cansaço. As aspirações ao dance punk, que se desenvolve em vários momentos do álbum se firmam com brilhantismo nessa faixa. A sintonia da banda e a boa finalização das faixas fazem com que seja impossível encontrar lacunas ou momentos menos inspirados no decorrer do trabalho. Se a intenção do Art VS. Science era a de fazer um trabalho feito para as pistas e ainda assim duradouro eles conseguiram.

 

The Experiment (2011)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Cut Copy, Daft Punk e The Chemical Brothers
Ouça: Magic Fountain

Rapidinhas (Singles)

Enquanto o terceiro disco da carreira de Lupe Fiasco não chega (o lançamento está previsto para o dia 04 de março) você fica com o single All Black Everything. A faixa fará parte de Lasers (2011), disco que contará com a presença de John Legend, Sway e Skylar Gray. Nada muito diferente dos anteriores lançamentos do rapper, ou seja, bons versos e uma batida entusiasmada.

The Deep Field (2011), quarto álbum da carreira de Joan Wasser (Joan as Police Woman) acabou de ser lançado e The Magic é o primeiro single a estrear. Tal quais os trabalhos anteriores Wasser entrega seus vocais de maneira agradável, que seguem embalados por uma instrumentação perfeita para realçar sua voz.

Depois de um bem sucedido disco de estreia, as quatro garotas do Warpaint entregam seu mais novo single: Shadows. A faixa faz parte do debute The Fool (2010), disco que catapultou as californianas para dentro do cenário independente de Los Angeles, além de apresentá-las ao resto do mundo.

Disco: "Quero Ser Cool", Les Pops

Les Pops
Brazilian/Indie/Pop
http://www.myspace.com/lespops

 

Por: Cleber Facchi

É por trabalhos como esse Quero se Cool (2011), disco de estreia da banda carioca Les Pops, que dá vontade de se aventurar novamente pelo terreno da música pop. Com letras divertidas e uma instrumentação variada, o quarteto chega destilando ótimos momentos e hits fáceis nesse trabalho lançado pelo selo Discobertas. Formada recentemente (o primeiro show da banda foi em setembro de 2009), o grupo mostra com esse primeiro trabalho de estúdio que a sinceridade e o jeito simples de desenvolver suas composições superam excessos e detalhamentos.

Por mais que seja clichê é difícil não esbarrar em termos como “ironia” e “cinismo” ao ouvir esse disco. O trio Rodrigo Bittencourt (voz e guitarra), Daniel Lopes (voz e guitarra) e Thiago Antunes (voz, Ukelele e Banjo) – nas gravações contaram com Rafael Rapreto na bateria – despejam letras repletas de duplos sentidos como as ótimas Esmalte, a homônima Quero ser Cool e Salto Agulha. Sobra espaço para que Nietzsche, Platão, Fellini, Bukowski e outras referências históricas/literárias (ou não) acabem figurando nas composições.

Na sonoridade a banda não aposta em uma fórmula específica para dar sequência as suas criações. Há um pouco de tudo. Desde um pop engraçadinho parecido com o que preenche boa parte do rock brasileiro dos anos 80, através de artistascomo Léo Jaime, Kid Vinil ou mesmo grupos mais recentes como Ecos Falsos. Reggae, samba, música brega e um ótimo uso de ukelele em boa parte das canções. Basta apreciar Salto Agulha, repleta de sons dançantes que lembram de leve alguma coisa dos Paralamas do Sucesso, ou seria Do Amor?

Há também uma clara aproximação com o rock dos anos 2000 como se observa em Batalha Naval. As guitarras ali utilizadas poderiam estar em alguma coisa do Strokes ou qualquer banda indie da última década. O rock “clássico” também não fica de lado. Em Aluguel em Abbey Road (com a banda explicando como o clássico disco dos Beatles influenciou o mercado imobiliário local) a instrumentação vem repleta de guitarradas no melhor espírito Rock ‘n’ Roll.

Sobra até espaço para uma sonoridade acústica se instalar no disco, como acontece com a canção que nomeia o álbum. Em meio a auto-ironias sobre a necessidade de ser “cool” e trechos em francês, o trio destila um ótimo dedilhado de violão, uma percussão reducionista e um piano sentimental com certo ar de cabaré ao fundo. Até Camisa Listrada, um cover do compositor carioca Assis Valente, que originalmente vinha em formato de chorinho vem totalmente reconfigurada nesse disco.

Quero ser Cool é um trabalho leve e descompromissado, talvez por isso seja tão gratificante ouvi-lo. Cada canção vem rodeada por elementos descomplicados, um álbum que funciona para ser tocado a qualquer hora do dia e sem restrições. Um tipo de disco que deveria sair mais vezes, e não de maneira tão esporádica.

 

Quero ser Cool (2011)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Ecos Falsos, Nevilton e Do Amor
Ouça: Salto Agulha

Akron/Family – "So It Goes"

 

Depois de lançar um dos trabalhos mais interessantes de 2011 o Akron/Family lança seu mais recente videoclipe. O vídeo que já está rolando há algum tempo ilustra a faixa So It Goes, canção que faz parte de Akron/Family II: The Cosmic Birth and Journey of Shinju TNT, sexto álbum da banda de Portland. Apesar de parecer amador demais esse é o clipe oficial da faixa.

Pequenos Clássicos Modernos

Gram
Brazilian/Indie Rock/Alternative
2002 – 2007

 

Por: Cleber Facchi

Em 2003 o grupo carioca Los Hermanos acabava de lançar Ventura, seu terceiro disco de estúdio, o primeiro após o aclamado Bloco do Eu Sozinho (2001). Com o lançamento, o quarteto se consolidava como o maior grupo musical da cena brasileira naquele momento. Por todo o país centenas de bandas inspiradas na sonoridade dos cariocas corriam atrás de seu próprio reconhecimento. Outras buscavam alcançar o sucesso desenvolvendo uma sonoridade só sua, entre eles o Gram.

Inspirados fortemente pela cena britânica, principalmente Beatles (parte dos membros da banda integraram um grupo de covers do quarteto de Liverpool) e Radiohead, os paulistas do Gram apostavam em canções melódicas repleta de efeitos de distorção, além de letras criativas carregadas de um denso lirismo. De Revolver à The Bends, o som do grupo é um fluir mais do que natural de múltiplas referências.

É inegável que boa parte do sucesso do grupo se deu por conta do clipe de Você Pode Ir Na Janela, uma animação feita pelo próprio vocalista do grupo, Sérgio Filho, e que se baseava na história de um gatinho. O clipe que custou “R$ 400,00 e algumas canetas BIC” arremessou a banda para as paradas da MTV Brasil e de boa parte das rádios do país. Contudo a faixa não é único bom exemplar do grupo.

O primeiro trabalho da banda é um conjunto de belíssimas canções pop embaladas ao som de piano, sintetizadores e das guitarras marcantes de Luiz Ribalta e Marcos Loschiavo. Cada uma das dez faixas que compõem o álbum contam com forte potencial radiofônico e carregam as emoções sinceras de Filho em suas letras.

Entre canções de amor, despedidas e corações partidos o disco conta com as belíssimas Reinvento (Quem inventou você fui eu, porém/ Eu tenho que ‘desinventar’/ Pro Bem), Faça Alguma Coisa (Fiquei tentado ao jogo de te ver só/Será um prazer perceber que você é bem mais/Quando em paz) e É a vida (Eu era bem feliz/ Mas tudo agora é de outra forma/ Você não está aqui e tudo segue outra norma). O álbum esbanja referências, de Star Wars em Seu Troféu à Radiohead na delicada Moonshine e Placebo em Quase ilusãoGram é um disco melancólico em que a alma do seu compositor é exposta por completo.

Em 2007 após uma baixa temporada de shows e a opção de Sérgio Filho em seguir na carreira publicitária o grupo encerrou suas atividades. O restante da banda até abriu uma campanha no site oficial da banda em busca de outro novo vocalista, a fim de produzir um novo projeto.  Restaram dois discos de estúdio (o álbum seguinte se chama Seu Minuto, Meu Segundo e foi lançado em 2006) e um DVD Ao Vivo gravado para a MTV, além é claro, de uma infinidade de velhos e novos fãs que a cada dia redescobrem o grupo.

 

Gram (2003)

 

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Los Hermanos, Pullovers e Ludov
Ouça: Reinvento

Disco: "Mind Bokeh", Bibio

Bibio
British/Electronic/Experimental
http://www.myspace.com/mrbibio

 

Por: Cleber Facchi

Stephen Wilkinson ou Bibio, como prefere ser conhecido é um desses caras que sabem trabalhar a música eletrônica e seus contornos ambientais como ninguém. Depois da boa recepção do álbum Ambivalence Avenue (2009) o produtor volta com mais um ótimo disco de faixas entrecortadas por colagens de sons, batidas lo-fi e uma mescla de instrumentação acústica e eletrônica. IDM e música folk se encontram naturalmente nesse sexto álbum da carreira do britânico.

Após o lançamento de três álbuns quase que de maneira simultânea em 2009 – Vignetting the Compost, Ambivalence Avenue e The Apple and the Tooth – Wilkinson retorna com Mind Bokeh (2011), um compendio de faixas aflorando detalhes caprichados e dotados da mesma precisão dos lançamentos anteriores. Nas doze músicas que compõem o novo álbum Bibio nos conduz em meio a um passeio cuidadosamente planejado em que infinitos samplers e programações eletrônicas configuram um cenário excêntrico, minimalista e divertido.

Diferente de muitos artistas e produtores que embrenham pelos caminhos da folktrônica, como o The Books (principalmente observando os últimos discos), Wilkinson consegue se desvincular da produção de faixas enfadonhas. Assim como os trabalhos de Kieran Hebden do Four Tet, a discografia do Bibio vem marcada pelo fato do músico não se fixar em um único seguimento para dar vazão ao seu som. Basta observar a faixa Pretentious. O que tem início com alguns acordes desordenados de uma harpa, logo se transforma com uma levada de reggae, entram os vocais, a batida se altera a cada instante, pequenas inserções de guitarras ao fundo, solos de teclados, até por fim um saxofone melancólico assumir a canção.

Mesmo nas faixas mais curtas do disco como Feminine Eye o produtor despeja um número grandioso de elementos, formas e sons diferenciados para dar origem à composição. Apesar da abrangência de fontes que vão permeando cada pequeno momento dentro do álbum, em nenhum momento as faixas surgem como um grande “Frankenstein musical”. Basta uma audição de Artists’ Valley para perceber como os elementos vão se encaixando de maneira precisa, por mais estranhos que sejam. Lentamente o mais ruidoso dos sons vai se acentuando dentro da grande massa sonora criada por Wilkinson.

Quem evitar o álbum por achar que o mesmo se trata de apenas mais um produto chillout no estilo “música de elevador” vai cometer um grande erro. Embora venha permeado por uma gama de elementos acústicos e suavizados, há também a inclusão de faixas dotadas de um ritmo mais dançante e nada comportado. Light Sleep, por exemplo, se mostra como uma espécie de jazz eletrônico explosivo, que logo se transforma com a inclusão de instrumentos funkeados, fazendo da faixa uma música perfeita para as pistas.

Da mesma forma que em Ambivalence Avenue, Bibio opta pela constante criação de sons mais comerciais, uma oposição ao formato compactado e mais cerebral dos primeiros discos. Faixas como Take Off Your Shirt mostram o lado mais popular do produtor britânico, além de talvez ser a criação mais estranha já feita por ele ao longo de sua carreira. As batidas eletrônicas dão lugar a um electrorock pulsante e que deve agradar em cheio aos que ainda não estão habituados às inconstâncias de Wilkinson.

Dando vazão a um som muito mais aberto Bibio faz de canções experimentais como K Is For Kelson um dos momentos mais virtuosos do disco. Valendo-se do uso de uma instrumentação ensolarada, daquelas típicas de aberturas de desenhos animados, a faixa vem repleta de sons variados, que vão desde uma percussão muito bem construída até a inclusão de um berimbau. Se o produtor constantemente fornece suas composições para a sonorização de comerciais publicitários, essa sem duvida deve ser uma das próximas.

Pode-se dizer que todo esse favorecimento para a criação de um som mais acessível, feito mais do que óbvio dentro desse novo disco, não é algo momentâneo. Ao longo dos quase dez anos de carreira como produtor, Stephen Wilkinson foi se aprofundando cada vez mais no desenvolvimento de canções mais comerciais e menos voltadas aos nichos da folktrônica/música ambiente. Se ao estrear com o álbum Fi em 2005 Bibio se mostrava um criador compenetrado e que esbarrava constantemente em comparações com o Boards of Canada, pode-se dizer que hoje ele conseguiu criar um tipo de som próprio, e convenhamos que ele está muito bem assim.

Mind Bokeh (2011)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Four Tet, Flying Lotus e Caribou
Ouça: K Is For Kelson

Disco: "Summer EP", The Dead Superstars

The Dead Superstars
Brazilian/Alternative Rock/Shoegaze
http://www.myspace.com/thedeadsuperstars

Por: Cleber Facchi

Cada vez mais o cenário independente nacional tem nos presenteado com uma quantidade absurda de bandas calcadas na criação de um rock sujo e descompromissado, que em nada fica devendo ao que vem sendo produzido no exterior.  Se lá fora temos bandas como Male Bonding, Abe Vigoda e Smith Westerns, aqui temos gente como o Loomer, Looking For Jenny e Top Surprise que em nada ficam devendo ao que vem rolando no exterior. Da mesma leva de bandas temos os recifenses do The Dead Superstars, que acabam de lançar seu segundo EP.

Visivelmente influenciados pelos sons de grupos como Sonic Youth e outras grandes nomes do guitar rock, a banda formou-se da amizade de João Eduardo e Rafael Oliveira, que há tempos já tocavam juntos em diversos projetos do cenário recifense. Na sequência vieram Poliana Ojima e João Pena para fechar o quarteto de superstars mortos. Em 2006 o primeiro EP da banda Orange Girls In The Blue City trouxe ao grupo uma boa repercussão através de sites o blogs especializados, dando inclusive aos mesmos uma indicação no prêmio Dynamite na categoria “revelação”.

Mesmo com apenas cinco faixas o novo pequeno disco do quarteto traduz de maneira entusiasmada sua sonoridade. Logo de cara No vem despejando uma sucessão de guitarradas sujas e um baixo que em nenhum momento se apresenta como um instrumento de figuração.

A jovialidade de seus integrantes revela através dos monumentais paredões de guitarra a real experiência dos Dead Superstars. Na sequência Christmas chega explodindo acordes distorcidos, que em nenhum segundo tem seu fluxo interrompido.

Se a abertura de Red demonstra que essa seria uma faixa mais limpa, a sequência de sons revisitando Dinosaur Jr provam o contrário. Logo uma irrequieta guitarra vem levantando mais e mais paredões sonoros, que compactuam com os vocais pesados de João Eduardo. Com #21 a banda pernambucana nos lembra o motivo de doses maciças de guitarras ensandecidas e barulhentas serem tão agradáveis. A bateria de Rafael Oliveira alcança seu melhor momento dentro do disco com uma sucessão de espancamentos memoráveis.

Para fechar esse Summer EP (2011) o grupo entrega a ótima Weird, uma canção menos rebuscada por solos distorcidos e que chega dando funcionamento a uma instrumentação mais límpida. Mesmo livre das espessas camadas de sons ruidosos a faixa traz a mesma efetividade das músicas anteriores. Um disco para os aficionados por boas cargas ruidosas e que não se contentam com sons moderados.

Summer EP (2011)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Looking For Jenny, Loomer e Wry
Ouça: Christmas

Samba 808

 

Samba se encontrando com uma bateria eletrônica Roland TR-808, não, Kanye West não está dando sequência ao seu emocionado 808 & Heartbreak (2008). Quem chega unindo música brasileira com toques de eletrônica é o Wado em seu próximo disco Samba 808, que sai ainda esse ano. Acima você tem um video teaser com o próprio musico explicando um pouco sobre o projeto que dará sequência ao ótimo Atlântico Negro de 2009.

Disco: "Who You Are?",Jessie J

Jessie J
British/Pop/Female Vocalists
http://www.myspace.com/jessiejofficial

 

Por: Fernanda Blammer

Jessica Cornish é a mais nova aposta para o pop britânico em 2011, assim como tantas Duffys, Clares, Corines ou qualquer outra dessas garotas fabricadas através de fórmulas repetitivas, mas que anualmente são encaradas como novas e inéditas dentro da indústria musical. O material “Jessica” nas mãos de hábeis produtores musicais se converte em Jessie J, uma jovem cheia de sonhos, que almeja alcançar o primeiro lugar nas paradas de sucesso e angariar um fiel grupo de seguidores em todo o planeta. Mas por trás de tudo isso existe alguma coisa realmente relevante?

Depois de alguns sons apresentados em 2010 e muita expectativa favorecida pela imprensa britânica Jessie lança seu primeiro álbum de estúdio, Who You Are? (2011). A fórmula que permeia o disco é uma velha conhecida de quem acompanha a música pop vinda do velho continente. Um misto de pop chiclete, com vocais programados para simular uma diva moderna da soul music, além de toques nada ponderados de música eletrônica fechando cada pequena lacuna das canções. Um método repetitivo, mas que estranhamente ainda agrada e surge de maneira inédita aos olhos e ouvidos de milhões em todo o mundo.

Em tempos de Lady Gaga e cantoras que buscam desesperadamente pela criação de algo que soe inovador é através dos vocais que Jessie J tenta se firmar. Por conta de boas horas de reconstrução em estúdio, a voz da garota chega repleta de efeitos, permitindo que seus vocais tremam, fiquem alongados e deem a ela a possibilidade de parecer uma grande cantora. Basta ouvir Nobody’s Perfect para perceber todos os recursos desenvolvidos até que a “perfeição” fosse alcançada. O fã mais desesperado vai logo correr para defender seu ídolo, mas qualquer um com um mínimo de conhecimento irá perceber a carga absurda de modulações aplicadas dentro desse disco.

Enquanto Lily Allen fez uma estreia calcada na utilização de elementos do ska e do reggae, Eliza Doolittle entregou de maneira simplista uma bela homenagem a música soul, Jessie J não proporciona absolutamente nada de diferente ao ouvinte. Como se não bastasse a jovem (e seus produtores) foram atrás de tudo que Robyn e seu ótimo Body Talk conseguiram em 2010, claro que de maneira muito mais artificial.

A jovem britânica é uma enganação tão grande, que até seu visual denota um erro. A aparência de mulher forte, adornada por belos cabelos Chanel e maquiagem negra deixam transparecer algo que Cornish não é. Mas independente de todos os problemas, alguns momentos se salvam dentro do disco? Pouquíssimas coisas. Você tem aquela sequência de faixas radiofônicas e dançantes na primeira metade do álbum, enquanto um pop choroso assume o restante, ou seja, o eterno mais do mesmo. Abracadabra vai até servir por alguns dias para você ouvir sem prestar atenção, mas nada que na semana seguinte já não seja esquecido.

Apesar de toda a fúria e crítica que saia sobre esse disco é inevitável o sucesso e os 15 minutos de fama que Jessie J irá angariar. Para quem espera um disco pop, grudento e descartável o álbum é uma boa dica. Já quem busca por um som que dure mais do que uma ou duas semanas, melhor esperar pelos próximos lançamentos.

 

Who You Are? (2011)

 

Nota: 3.0
Para quem gosta de: Lily Allen, Ke$ha e Eliza Doolittle
Ouça: Abracadabra

 

Pequenos Clássicos Modernos

brincando de deus
Brazilian/Indie/Alternative Rock
http://www.myspace.com/brincandodedeus

 

Por: Cleber Facchi

 

Talvez o brincando de deus (tudo minúsculo mesmo) seja uma das bandas brasileiras mais surpreendentes dos últimos anos. Enquanto a Bahia inteira se encaminhava para a explosão do Axé Music no começo dos anos 90, quatro malucos (não há outra definição) se lançaram na criação de músicas inspiradas em um tipo de som completamente alheio a tudo que circulava no país naquele momento. Ao invés de darem vazão a um som nacionalizado e colorido pelas inúmeras tonalidades da música brasileira, os quatro baianos foram atrás do que havia de mais recente nos sons do exterior, se aventurando de maneira corajosa por um terreno pouquíssimo explorado até então em terras tupiniquins.

Better When You Love Me e Running Live on Your Mind (Ao Vivo) traduzem com propriedade toda a força do grupo, além de suas inúmeras e inventivas nuances sonoras. É o tipo de som, que mesmo feito em território nacional compactuaria tranquilamente com o que estava em voga naquele momento, seja em algum subúrbio londrino ou em algum bar obscuro de Nova Iorque, o fato é que a banda trabalhava com um som universal, pelo menos dentro do cenário independente daquele momento.

Se com esses dois discos a banda já teria um espaço significativo na recente história do rock nacional, com o terceiro álbum de estúdio lançado em meados dos anos 2000, o grupo de Salvador romperia até seus próprios limites. Com produção de André T. (que já havia produzido trabalhos das bandas Brinde e Cascadura) o homônimo álbum do brincando de deus consegue sintetizar com primazia todo o universo de referências que constroem o plano de fundo do grupo.

Composto por 14 faixas o disco reúne todas as influências externas, assim como o anterior resultado alcançado nos demais discos da banda e condensa tudo, adornando com uma acessibilidade pop. O resultado fica visível através de faixas como Música, em que o indie rock, as camadas distorcidas no melhor estilo shoegaze e um refrão pegajoso assumem a direção do começo ao fim. O mesmo vale para Clap Your Hends, essa dando um maior favoritismo às guitarras e mesclando elementos que vão do rock psicodélico à música eletrônica.

Pela primeira vez a banda também se apresenta cantando trechos em português, algo até então inédito nos dois trabalhos anteriores. Faixas como O Livro de Rilke chegam em alto e claro idioma nacional, mesmo que seja entrecortando longos versos em inglês. Diferente do primeiro álbum, aqui as canções chegam de maneira muito mais límpida e audível, o que não desmistifica a aura lo-fi do debute do grupo.

Embora a banda nunca tenha assumido seu término, há mais de dez anos que nada novo do brincando de deus é lançado. Entre apresentações esporádicas que eventualmente fazem a felicidade dos fãs nostálgicos e a eterna promessa de um DVD com um documentário sobre o grupo, existe também a possibilidade de um quarto trabalho de estúdio. Com toda a credibilidade que circunda a tríade de discos do grupo é de se esperar que tenhamos mais um belo lançamento. Só resta torcer que não demore a sair.

 

brincando de deus (2000)

 

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Pelvs, Wry e Astromato
Ouça: Clap Your Hands