Disco: "A Bossa Bem Mais Nova", Novos Bossais

Novos Bossais
Brazilian/Bossa Nova/Alternative
http://www.myspace.com/novosbossais

 

Formado por um time de músicos da cena alternativa de Recife, o grupo Novos Bossais vem com a proposta de reconfigurar clássicos da Bossa Nova, aproximando-os para uma linguagem muito mais jovial e divertida. Prepare-se para ver canções eternizadas por nomes como João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes em uma levada que vai do carimbó paraense ao reggae jamaicano.

Com Gleisson Jones (Rádio de Outono), Juliano Ribeiro, Thiago e Lucas Araújo (os três, membros da extinta Parafusa) e Joaquim Pessoa (Outrosim) o grupo passeia por uma infinidade de ritmos e experimentalismos sonoros em busca de uma musicalidade mais acessível e que vá além do tradicional “banquinho e violão”. Um exemplo é Chega de Saudade, eternizada na voz de João Gilberto e imersa em acordes secos de violão, ganha aqui uma versão gingada ao som de efeitos de teclado que logo abrem espaço para um acréscimo de guitarras em ritmo carnavalesco e misto de technobrega.

Parte da eficiência do disco está nos teclados de Juliano Ribeiro. Em todo o trabalho as faixas contam com camadas, efeitos ou mínimos barulhos de teclado e programação eletrônica. Quem acompanhava o trabalho de Ribeiro em sua antiga banda, a excelente Parafusa, vai perceber forte similaridade. Samba de uma nota só, O Barquinho e Com que Roupa são boas mostras da eficiência do musico em inserir seu instrumento, seja através das bases das canções ou em meio a solos divertidos de teclado.

Tanto a escolha do repertório como da plural sonoridade do disco fazem de A Bossa Bem Mais Nova um trabalho agradável, porém em alguns momentos o disco pende demais para o básico. Por mais que conte com uma instrumentação admirável e faça um passeio por estilos tão díspares como Axé e Surf Music, o álbum soa meio “mais do mesmo”. Talvez se o grupo se apoiasse mais no regionalismo e no uso da sonoridade carimbó, axé ou technobrega traria de fato um disco muito mais marcante.

 

A Bossa Bem Mais Nova (2010)

1. Garota de Ipanema
2. Com que roupa
3. Samba do Avião
4. Saudade da Bahia
5. Samba da Minha Terra
6. A Rita
7. Tarde em Itapuã
9. Samba de uma nota só
10. Maracangalha
11. Se você jurar
12. O Barquinho
13. A Felicidade
14. Água de beber

 

Nota: 6.8
Para quem gosta de: Mombojó, Parafusa e China
Ouça: Garota de Ipanema, Chega de Saudade e Tarde em Itapuã

 

Disco: "Before Today", Ariel Pink’s Haunted Graffiti

Ariel Pink’s Haunted Graffiti
Lo-Fi/Experimental/Indie
http://www.myspace.com/arielpink

Maturidade
ma.tu.ri.da.de
sf (lat maturitate) 1 O mesmo que madureza. 2 Idade madura.3 Perfeição. M. social, Sociol: grau em que as atitudes, a socialização e a estabilidade afetiva de um indivíduo refletem, como característica normal do homem adulto, um estado de adaptação ou ajustamento ao seu próprio meio.

Quem conhece a discografia (ou parte dela) do Ariel Pink’s Haunted Graffiti sabe que a sonoridade da banda não é nem um pouco acessível e por vezes soa até mesmo monótona. Desde o lançamento do seu primeiro disco, The Doldrums em 2004, a banda funciona muito mais como mecanismo de expressão (ou esquizofrenia) de seu front man Ariel Marcus Rosenberg do que como grupo musical em si. Em Before Today, o sexto (?) disco da banda, o Ariel Pink’s pode finalmente dizer que atingiu a maturidade e que inclusive chegou bem perto da perfeição.

O grande problema da banda em seus trabalhos anteriores estava justamente no excesso de canções que preenchiam os álbuns. Boa parte delas pareciam canções demo desnecessárias, outras estavam mais para uma tentativa preguiçosa de Rosenberg em tentar compor qualquer coisa. Desde que surgiu o grupo já lançou uma variedade de coletâneas contando com experimentalismos, versões demo ou sobras (das sobras) de estúdio.

Com Before Today o velho Ariel Pink’s Haunted Graffiti ainda está lá, porém finalmente conciso. Faixas gravadas em baixa definição, os vocais lesados de Rosenberg, experimentalismos e sujeira sonora, mas tudo acompanhado de ritmo quase pop e faixas extremamente fáceis e assimiláveis. É como se alguém de fato lapidasse uma banda que antes estava bruta e por vezes inaudível, e a transforma-se em algo maduro sem perder suas características básicas.

Outro fator importante é a não presença de Ariel Rosenberg como figura única e controladora da banda. É visível a presença das guitarras, baixo, baterias e teclados de maneira funcional, onde os demais membros da banda tornam-se figuras essenciais em seu funcionamento.

Claro que Rosenberg (ainda o principal compositor da banda) merece boa parte do destaque. Suas letras antes insossas dão lugar a canções acessíveis que beiram a musicalidade pop. Bright Lit Blue Skies parece até ter saído de alguma banda de indie rock contemporânea. O mesmo acontece L’estat e com as baladas Round and Round e Can’t Hear My Eyes. O rock não fica de fora em Before Today, Butt-House Blondies (que parece alguma coisa do Pixies) abre e fecha em meio à guitarras pesadas e bateria bem definida. Sobra espaço ainda para a sessentista Little Wing uma das melhores faixas do álbum.

Before Today é indiscutivelmente um dos melhores discos lançados em 2010. O experimentalismo pop e as canções lo-fi acessíveis serão um agrado tanto para aqueles que buscam um som mais “comercial” como para quem por um rock mais alternativo.

Before Today (2010)

1. “Hot Body Rub” – 2:26
2. “Bright Lit Blue Skies” – 2:25
3. “L’estat (Acc. to the Widow’s Maid)” – 4:26
4. “Fright Night (Nevermore)” – 3:35
5. “Round and Round” – 5:08
6. “Beverly Kills” – 3:56
7. “Butt-House Blondies” – 3:27
8. “Little Wig” – 5:46
9. “Can’t Hear My Eyes” – 3:19
10. “Reminiscences” – 2:34
11. “Menopause Man” – 4:00
12. “Revolution’s a Lie” – 3:49

Nota: 9.3
Para quem gosta de: Ducktails, Real Estate e Animal Collective
Ouça: Round and Round, Little Wing e Can’t Hear My Eyes.

Disco: "Mare", Julian Lynch

Julian Lynch
Lo-Fi/Folk/Experimental
http://www.myspace.com/julianlynch

 

Pendendo para uma levada lo-fi folk, o norte-americano Julian Lynch nos apresenta um bom disco de experimentalismos acústicos e pequenas doses de psicodelia. Segundo disco lançado por Lynch em menos de um ano, Mare é um álbum absorto em camadas e gravações quase caseiras com forte apelo instrumental e que por vezes se perde em meio a ambientações e canções climáticas.

Acordes de violões se misturam a viagens de piano e efeitos de teclados em boa parte do álbum. Desde a primeira faixa, Just Enough, com suas influências quase árabes, Lynch passeia em meio a canções viajadas, porém concisas se forem comparadas com seu trabalho anterior, o razoável Orange You Glad, de 2009. Da mesma forma que o disco antecedente os vocais de Julian Lynch aparecem de maneira quase oculta, em meio a inúmeras camadas e efeitos de distorção, sobrando de fato pouco de sua voz original. Em Mare o destaque está nos experimentalismos, sobrando pouco espaço para que o músico solte sua voz.

Por diversos momentos as caixas de som distorcem e chiam durante a execução do disco. Contudo, parte dessa “microfonia” é elemento natural do álbum. Mesmo em meio a experimentalismos quase inaudíveis no decorrer das dez faixas que compõem Mare, algumas canções (um pouco) mais acessíveis podem ser encontradas. A melancólica A Day At The Racetrack ou Ruth, My Sister com uma levada quase jazzística são bons exemplos. O Jazz parece ser outra vertente explorada pelo músico em seu álbum. Resquícios do experimentalismo de Miles Davis se manifestam em todo o disco.

Porém, nem só de experimentações se constitui Mare. Still Racing é uma das poucas faixas livres de reconfigurações sonoras, sendo executada unicamente ao som de um violão e dos vocais quase audíveis de Lynch.

Ao mesmo tempo em que o músico se esconde em meio a camadas de distorção e uma musicalidade completamente alheia aos padrões radiofônicos, Mare não dispõe de exageros e em diversos momentos soa um trabalho até melódico. Seus quase 40 minutos de duração fluem com tranquilidade. A sonoridade que tudo teria para se distanciar do ouvinte soa muito mais próxima do que excludente.

 

Mare (2010)

1.Just Enough 03:36
2.Mare 05:38
3.A Day at the Racetrack 02:55
4.Stomper 03:13
5.Interlude 01:50
6.Still Racing 02:53
7.Ears 02:28
8.Ruth, My Sister 05:00
9.Travelers 03:58
10. In New Jersey 05:35

 

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Real Estate, How To Dress Well e Beach House
Ouça: Just Enough, Ruth, My Sister e A Day at the Racetrack

 

Disco: "All Day", Girl Talk

Girl Talk
Electronic/Mashup/Dance
http://www.myspace.com/girltalk

 

Se fosse necessário indicar as maiores “entidades” da música no século XXI Gregg Gillis do Girl Talk sem dúvidas entraria na lista. O mestre dos mashups foi o responsável por animar boa parte das festas da última década. Seja pelas suas apresentações caóticas ao vivo (vide a chuva de papel higiênico no último Planeta Terra) ou por sua pluralidade musical na construção de seus hits. Com All Days sua quinta mixtape, Gillis prova que sua fórmula ainda não está datada e que sabe como produzir boas faixas para as pistas.

Distribuído de maneira gratuita pelo selo Illegal Art o disco segue apenas com um aviso: deve ser ouvida como faixa única, sem separações, uma espécie de mashup gigante de 71 minutos de duração. A divisão das faixas segundo o próprio Gillis serve apenas para facilitar o acesso aos ouvintes. Independente de como você for ouvir All Days (faixa por faixa ou no formato mashup gigante) prepare-se para ver hip-hop e a música punk funcionando como estilo único ou ainda Beyoncé e Nine Inch Nails numa união tão perfeita que parecem até uma banda só.

Uma das grandes propriedades do Girl Talk está justamente nessa tranquilidade em passear por diferentes estilos, sem que isso soe estranho ou comprometa o bom funcionamento do álbum. Já de cara Gillis funde War Pigs do Black Sabbath com Jay-Z, 2Pac e Ludacris na faixa Oh No com tanta habilidade que até parece que essa é a versão original da canção.

Como sempre cada faixa do Girl Talk transita por diferentes décadas musicais, unindo artistas da nova e das velhas gerações. Get It Get It é um bom exemplo disso. Abre com os refrões de Bad Romance de Lady Gaga, passeia por George Clinton, Aphex Twin, rouba versos de Black Eyed Peas, sampleia Depeche Mode, une MGMT com Katy Perry, Daft Punk com The Who e tudo com propriedade ímpar. As faixas mais parecem uma grande vitrine musical, cinco décadas de música resumidas em minutos.

Gregg Gillis segue os mesmos passos de seus últimos discos Night Ripper (2006) e Feed The Animal (2008) juntado samplers, bases e refrões em quantidade abrangente, algo que difere dos trabalhos iniciais do músico. Algumas amostras passam quase despercebidas em meio a tantas referências, outras como as guitarras de Wake Up do Arcade Fire em Make Me Wanna recebem todo o destaque. O Hip-Hop como sempre é o elemento que marca o disco usando da sonoridade das demais bandas apenas de base para que Lil Wayne, Jay-Z, Kid Cudi e outros rappers possam brilhar ainda mais.

 

All Day (2010)

1. Oh No
2. Let It Out
3. That’s Right
4. Jump on Stage
5. This Is the Remix
6. On and On
7. Get It Get It
8. Down for the Count
9. Make Me Wanna
10. Steady Shock
11. Triple Double
12. Every Day

 

Nota: 8.1
Para quem gosta de: E-603,  Major Lazer e Diplo
Ouça: Oh No,  Get It Get It e Make Me Wanna

Disco: "Fantasy Memorial", Dinosaur Feathers

Dinosaur Feathers
Afrobeat/Indie Pop/Experimental
http://www.myspace.com/dinosaurfeathers

 

Desde que os norte-americanos do Vampire Weekend lançaram seu debut em 2008, uma explosão de bandas que se espelham na sonoridade afrobeat com levadas de pop music eclodiram no mundo todo. Também originários do Brooklyn os Dinosaur Feathers abraçam a música africana e as guitarras indie rocker, porém pendem muito mais para o lado experimental da música.

A base é a mesma, o trio formado Greg Sullo, Ryan Kiley e Derek Zimmerman vai atrás das influências africanas apresentadas pelo nigeriano Fela Kuti e os Africa ’70, os grandes precursores do Afrobeat. Contudo, a influência tribal que se estende nos quase 50 minutos do disco pende para um lado muito mais climático do que pop, algo como um encontro entre Beach Boys e tambores africanos.

A referência aos californianos do Beach Boys é ainda mais marcante através dos vocais melódicos do trio Sullo, Kiley e Zimmerman. As guitarras comandadas por Greg Sullo também acabam conduzindo em diversos momentos para o surf music da década de 60. Sobra até espaço para algumas doses de math rock como acontece em Fantasy Memorial faixa que encerra e dá nome ao disco.

Em geral faltam hits ou canções verdadeiramente marcantes no álbum. I Ni Sogoma, Vendela Vida, History Lessons e Family Waves são um exemplo dos grandes momentos do disco que apresentam melodias pop e menos experimentais. O trabalho conta com uma sonoridade muito bem desenvolvida, porém Fantasy Memorial parece um disco contido, como se a banda não mostrasse seu real potencial. A iniciante Dinosaur Feathers ainda tem muito que melhorar, pelo menos seus membros já estão no caminho certo.

 

Fantasy Memorial (2010)

1. I Ni Sogoma
2. Vendela Vida
3. Teenage Whore
4. Family Waves
5. Sleeping In
6. History Lessons
7. Crossing The Cannon
8. Holy Moses
9. Know Your Own Strength
10. Fantasy Memorial

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Vampire Weekend, The Morning Benders e Grizzly Bears
Ouça: I Ni Sogoma, Vendela Vida e Family Waves

 

Disco: "The Heart Of The Nightlife", Kisses

Kisses
Chillwave/Indie Pop/Electronic
http://www.myspace.com/blowkissess

 

Em meio a onda de novas bandas e artistas que surgem dentro da intitulada Chillwave, muita coisa acaba passando despercebida ou nem merece tanta atenção assim dos ouvintes. O divertido The Heart Of The Nightlife dos californianos do Kisses é um disco que merece sim todos os olhares (ou ouvidos).

Composto de nove curtas faixas, o projeto comandado por Zinzi Edmundson (com seu sotaque carregado) e a bela Jesse Kivel é o som perfeito para um fim de tarde no verão. Teclados lo-fi, programações eletrônicas básicas e guitarras apenas quando necessário. Tudo isso guiado pela voz caricata de Edmundson que muito remete aos timbres do sueco Jens Lekman em uma versão mais soft. A tecladista Kivel também acompanha com sua voz delicada fazendo backing vocal em algumas faixas, como na ensolarada Weekend in Brooklyn.

O Kisses muito lembra o Passion Pit do EP Chuck Of Change ou algumas canções de Matt & Kim com seus teclados característicos. Claro que tudo isso em uma qualidade bem mais baixa de gravação. O bom mesmo de The Heart Of The Nightlife está justamente nos pequenos ruídos ao fundo das faixas, dando ao trabalho uma aura de vintage.

O disco pende muito mais para uma atmosfera Indie Pop do que Chillwave em si. Isso fica visível na belíssima Bermuda, um dos primeiros hits do álbum, em que camadas de teclados dançantes, bateria e pequenas levas de guitarra ditam o som. Outro destaque é a praieira Women of The Club, com direito a dedilhados de violão em meio a batidas eletrônicas suaves e a agradável voz de Edmundson.

O trabalho de estreia do Kisses não chega nem perto dos grandes discos de 2010, mas isso não é problema em nenhum momento. The Heart Of The Nightlife é agradável na medida certa. Melodias pop e solos de teclado quase infantis fazem do álbum um belo condensado de canções pop com o único intuito de divertir.

 

The Heart Of The Nightlife (2010)

1. Kisses
2. Bermuda
3. People Can Do The Amazing Things
4. Women Of The Club
5. The Heart Of The Nightlife
6. Lovers
7. Weekend in Brooklyn
8. Midnight Lover
9. On The Movie

 

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Passion Pit, Matt & Kim e Tennis
Ouça: Bermuda, Women of The Club e Weekend in Brooklyn.

Disco: "Stridulum II", Zola Jesus

Zola Jesus
Darkwave/Ambient/Lo-Fi
http://www.myspace.com/zolajesus


O projeto Zola Jesus da californiana Nika Danilova é uma das maiores homenagens já feitas à música gótica e ao rock industrial dos anos 80. Batidas eletrônicas, minimalismos sombrios e noise pop marcam Stridulum II, precedido de um EP homônimo que fazia uma introdução do que seria encontrado em sua sequência. Prepare-se para uma viagem em um ambiente guiado pela voz grave de Danilova e sua instrumentação pesada e obscura.

O EP conta com exatamente as seis primeiras faixas que abrem Stridulum II. O que se altera são apenas alguns arranjos das faixas ou como em Night as canções são executadas na íntegra enquanto no disco acabam mais compactadas. Mesmo mais curtas as faixas do álbum não perdem sua qualidade e contam ainda com o acréscimo de outras três canções (Tower, Sea Talk e Lightsick).

Siouxsie and The Banshees, The Sisters Of Mercy e Bauhaus reverberam por todo o trabalho. O vocal de Danilova em diversos momentos faz lembrar Siouxsie Sioux, principalmente quando solta sua voz em canções como a belíssima Run Me Out ou na faixa que dá nome ao disco.

É perceptível o sentimento de desespero quando Danilova despeja os versos de I Can’t Stand, como se tentasse salvar alguém (ou a si mesma) de um coração partido. “Não é fácil se apaixonar/ Mas se tiver sorte poderá encontrar alguém/Então não deixe isso te derrubar” entoa a cantora. A aura melancólica se estende às demais faixas do disco até seu desfecho em Lightsick com seus pianos em looping.

Stridulum II é um apanhado de grandes canções da música gótica contemporânea que se fossem lançadas há vinte anos se transformariam e clássicos imediatos. Night, I Can’t Stand e Sea Talk são apenas um exemplo das brilhantes faixas de Nika Danilova trabalhadas dentro da temática obscura do disco, mas que são extremamente acessíveis. Boa parte das canções crescem gradativamente em sua execução culminando em um momento de sonoridade explosiva acompanhado de um refrão marcante que cresce ainda mais através da voz triste da vocalista.

Stridulum II (2010)

1. Night
2. Trust Me
3. I Can’t Stand
4. Stridullum
5. Run Me Out
6. Manifest Destiny
7. Tower
8. Sea Talk
9. Lightsick

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Beach House, Siouxsie and The Banshees e Fever Ray
Ouça: Night, I Can’t Stand e Sea Talk

Disco: "Love Remains", How To Dress Well

How To Dress Well
Lo-Fi/Chillwave/Psychedelic
http://howtodresswell.blogspot.com/

O sentimento de melancolia paira sobre “Love Remains”. Diversas colagens de sons, ruídos e vozes em meio a canções que seguem uma levada R&B dos anos 70. Tom Krell o homem por trás do How To Dress Well leva o ouvinte para um passeio em meio a um universo psicodélico e obscuro no decorrer das 14 faixas que compõem seu trabalho de estreia.

“Love Remains” é um disco de detalhes. Dos diálogos vindos de gravação caseira e os ruídos minimalistas que abrem o álbum com a faixa You Hold The Water até Suicide Dream 1 e seu conjunto de vozes sussurrantes, no encerramento do disco, sobram minuciosos acréscimos sonoros nas canções. Abundam também referências pelo trabalho. É como se o álbum todo fosse uma extensão do clássico Kid-A do Radiohead. A voz de Kroll, tal qual a de Tom Yorke funciona muito mais como parte da instrumentação do disco do que como um elemento de destaque. Bases de piano e teclado vão se sobrepondo, porém em uma gravação bem menos aparada que a do grupo britânico.

O timbre de voz de Kroll também faz lembrar a voz de Justin Vernon do Bon Iver. Tal semelhança se confirma na faixa Ready For The World que muito lembra Flume do disco For Emma, Forever Ago. Ao contrário de Bon Iver, How to Dress Well foca unicamente na instrumentação eletrônica, contudo as massas sonoras geradas no álbum apresentam um resultado extremamente orgânico e acessível.

Por Mais que seja dividido em faixas “Love Remains” parece fluir como uma única e extensa canção de 38 minutos. Cada uma das músicas parece dar continuidade à faixa anterior sem que isso faça do álbum um trabalho repetitivo ou cansativo.

Tom Krell e seu trabalho de estreia podem ser facilmente classificados dentro da nova leva de músicos que focam no experimentalismo lo-fi através da música eletrônica. Diferente de nomes como Washed Out, Toro Y Moi ou Neon Indian o How To Dress Well não é tão dançante ou se inspira na temática praieira com acompanha a música independente atual. Krell produz um disco muito mais intimista. É quase possível visualizar o artista sozinho, com as luzes apagadas desenvolvendo suas programações em frente a um laptop.

Love Remains (2010)

1. You Hold The Water
2. Ready For The World
3. My Body
4. Suicide Dream 2
5. You Won’t Need Me Where I’m Goin’
6. Can’t See My Own Face
7. Walking This Dumb (Live)
8. Date of Birth
9. Escape Before The Rain
10. Endless Rain
11. Lover’s Start
12. Mr. By & By
13. Decisions feat. Yuksel Arslan
14. Suicide Dream 1

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Twin Shadow, Toro Y Moi e Radiohead
Ouça: You Hold The Water, Decisions e Ready For The World

Discos: "Hits do Underground" e "National Indie Hits"


Fazer um disco apenas de covers no Brasil em geral acaba classificado como um trabalho de intérprete. Volta e meia alguma nova “voz” da MPB surge lançando um disco só com gravações de algum “medalhão” da música brasileira. Enquanto lá fora é comum o lançamento de álbuns que conta apenas com regravações de artistas independentes, a modalidade só começa a despontar agora no Brasil. Em 2010 dois trabalhos focam unicamente em dar roupagem nova à artistas da cena independente: “Hits do Underground” e “National Indie Hits”.

O primeiro, comandado por Miranda Kassin e André Frateschi elabora uma série de versões em dueto para algumas boas pérolas recentes do rock nacional. “Hits do Underground” passeia por canções como Semáforo (Vanguart), Magrela Fever (Curumin), 220 Volts e (Cérebro Eletrônico) e Deixe-se Acreditar (Mombojó) atribuindo às faixas uma levada muito mais pop e pronta para as massas.

É estranho ouvir a suingada Magrela Fever transformada em algo que mais parece ter saído da trilha sonora da novela das oito. Ou ainda , que ganha uma inserção de versos em sua abertura e perde completamente os ruídos e a atmosfera psicodélica de sua gravação original no disco Pareço Moderno de 2008. Já 220 Volts parece fluir com tranquilidade através dos diálogos entre Kassin e Frateschi. Contudo a atmosfera morna do resto do disco faz com que as faixas agradem, mas não consigam de fato motivar o ouvinte.

Já em “National Indie Hits”, comandado pela extinta Wry, temos uma série de boas canções do indie rock da década de 90 embalada pelas guitarras sujas da banda. Último disco lançado pela banda, a coletânea de faixas obscuras do rock nacional passeia por grupos como Pelvs, Astromato, MQN, Walverdes e Brincando de Deus.

O grande acerto da Wry na nova interpretação das faixas está em justamente manter-se próxima das versões originais, acrescentando ainda mais as já sujas camadas de guitarra e distorção, típicas da banda. O destaque fica para Novos Adultos do Walverdes em que o vocalista Mario Bross solta a voz cantando em português, algo que acontecia pouco nos discos de estúdio do grupo. “National Indie Hits” serve tanto como introdução aos trabalhos do Wry como para relembrar as bandas regravadas (boa parte delas já não existe mais). Um bom disco para os saudosistas do rock brazuca.

Hits do Underground (2010)

1. Semáforo
2. Magrela Fever
3. 220 Volts
4. Deixe-se Acreditar
5. Dê
6. Zeitgeist
7. Fita Bruta
8. Artista é o caralho
9. O dia em que seremos felizes
10. Só tetele
11. Rodando El Mundo

 

Nota: 6.0
Para quem gosta de:
Ouça: 220 Volts

 

National Indie Hits (2010)

1. Evisceration (Killing Chainsaw)
2. Canção do Adolescente (Astromato)
3. Precious Love (Low Dream)
4. I Feel You (Snooze)
5. Burn Baby Burn (MQN)
6. Angel’s Wheels (Sonic Disruptor)
7. Loveles (Pelvs)
8. Inside My Mind (again) (Vellocet)
9. Christmas Falls on a Sunday (Brincando de Deus)
10. Novos Adultos (Walverdes)
11. Kill Summertime (Space Rave)
12 . Guts (Pinups)
13. Not the Same (Biggs)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Pelvs, Walverdes e Astromato
Ouça: Canção do Adolescente, Loveless e Novos Adultos

Disco: "Feito Pra Acabar", Marcelo Jeneci

Marcelo Jeneci
Brazilian/Indie Pop/Baroque Pop
http://www.myspace.com/jeneci

Marcelo Jeneci com seu delicado “Feito Pra Acabar” era o artista que faltava para integrar a safra de novos músicos da MPB. Fortemente inspirados pela Tropicália e a Música Popular Brasileira dos anos 70 Jeneci, Tulipa Ruiz, Cidadão Instigado, Nina Becker, Silvia Machete, Céu e Cérebro Eletrônico são os responsáveis por dar voz à nova geração de músicos que nos presentearam com grandes lançamentos do gênero. Esqueça a “MPB tradicional” que toca nas rádios comerciais ou que é debatida nos “papos cabeça” em conversas de boteco. Dê espaço para que seus ouvidos tenham acesso ao que há de realmente novo na música nacional.

Não é de hoje que Marcelo Jeneci desponta para o meio musical. O músico é responsável por diversos clássicos que embalaram as novelas globais (como Amado na Voz de Vanessa da Mata) ou mesmo músicas sertanejas (Longe cantada por Leonardo).

Jeneci que começou como músico na banda de Chico César tocando sanfona traz o instrumento para seu primeiro disco, dando ao trabalho uma aura de Baroque Pop, típica de bandas como Decemberists ou do músico francês Yann Tiersen. Por falar no músico, fica visível a proximidade em faixas como “Pra Sonhar” embalada pela voz suave de Laura Lavieri e que parece ter saído do disco C’était ici de Tiersen.

Além de Lavieri “Feito Pra Acabar” conta com uma porção de músicos que contribuem para o bom funcionamento do disco. Na guitarra Edgard Scandurra (ex-Ira!), o baixo fica por conta de Régis Damasceno (Cidadão Instigado) e a bateria comandada por Curumin. Há ainda a força de Kassin conduzindo a produção do disco e encaixando com coesão as 13 faixas que compõem o álbum.

Contudo, a sonoridade do disco não é o único ponto forte de “Feito Pra Acabar”. Jeneci sabe explorar com qualidade as letras de suas canções. Começando com a quase auto-ajuda Felicidade (“Você vai rir sem perceber/Felicidade é só questão de ser”), o rock Copo D’àgua (“A sua roupa, bolsa, lenço e maquiagem/Na minha cama, quarto, sala até na minha tatuagem/Quando um não quer os dois não fazem tempestade em copo d’àgua”) e a belíssima declaração de amor Dar-te-ei (“Dar-te-ei finalmente os beijos meus/ Deixarei que esses lábios sejam meus, sejam teus/estes embalam, estes secam, mas esses ficam”). Claro que alguns erros como a excessivamente motivacional Show de Estrelas (“De que cada um de nós não é se não uma estrela/ Cada um de nós é um ser de luz”) acabam surgindo pelo disco.

A pluralidade de estilos também é uma das marcas do álbum. Há traços de música sertaneja como em Pra Sonhar, rock em Copo D’Àgua, pop na divertida Café com Leite e Rosas e Tropicalismo em Jardim do Éden. Sobra espaço para que Jeneci explore ao máximo sua voz e a instrumentação do disco.

Com a faixa homônima, “Feito Pra Acabar” se encerra ao som de um épico com mais de sete minutos de duração abrindo espaço para violinos, percussão, pianos e experimentalismos. A prova que a força de Jeneci e da nova geração de músicos que compõem a famigerada Música Popular Brasileira está justamente em ousar e não ficar presa a fórmulas ou tradicionalismos musicais.

Feito Pra Aacabar (2010)

1. Felicidade
2. Jardim Do Éden
3. Copo D’àgua
4. Café com Leite de Rosas
5. Quarto de Dormir
6. Pra Sonhar
7. Por Que Nós
8. Dar-Te-Ei
9. Longe
10. Tempestade
11. Show de Estrelas
12. Pense duas vezes antes de esquecer
13. Feito Pra Acabar

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Tulipa Ruiz, Cidadão Instigado e Céu
Ouça: Felicidade, Dar-Te-Ei e Copo D’àgua